Mês da Consciencialização para a Gravidez Pós Perda
Março é o mês da consciencialização para a gravidez pós perda gestacional e neonatal. Uma gravidez que tem muito de diferente da anterior. Quando se passa por uma perda, já não se vai para uma próxima gravidez com a mesma ingenuidade. Já é mais difícil acreditar que vai correr tudo bem. Ao mesmo tempo, a avalanche de sentimentos que surgem pode ser vivida de forma isolada porque, tendencialmente, as perdas não são faladas de forma aberta. Se viveste uma perda no primeiro trimestre, o mais certo é que tenhas contado a muito pouca gente. Logo, numa nova gravidez, também serão poucas as pessoas a saber das particularidades porque podes estar a passar. E os profissionais de saúde que te acompanham, também tendem a desvalorizar a gravidez anterior. Para eles é algo muito natural. Mas para ti não. E se passaste por uma perda numa fase mais avançada da gravidez, durante o parto ou já depois deste, a tendência é sempre abafar, apressar a recuperação, diminuir a validade da dor sentida. Em qualquer um destes casos, deixo-te um abraço apertado.
Quando posso voltar a engravidar?
Esta é uma das perguntas mais frequentes. Quanto tempo devo esperar para voltar a tentar engravidar? Será que há um intervalo de tempo recomendado com evidência científica? Devo procurar tratamentos de fertilidade?
Os estudos mostram que, após uma perda, há uma alta probabilidade de que a gravidez seguinte aconteça de forma natural num período de 6 meses. Por outro lado, os casais que optaram por tratamentos de fertilidade, tiveram intervalos de tempo ligeiramente superiores até à conceção, sem que tenha havido qualquer alteração nos índices de perdas na gravidez seguinte.
Então, se não estás a passar por uma situação de abortos de repetição (e aqui cabe avaliação mais detalhada e acompanhamento especializado), o mais recomendado é que tentes chegar a uma nova gravidez de forma natural. Isto não quer dizer que tenhas que começar logo a tentar. Mas também não quer dizer que tens que esperar um intervalo de 3 meses, como tantas vezes é recomendado. Não existem, atualmente, evidências de que esperar determinado tempo entre gravidezes reduza a probabilidade de ocorrência de uma nova perda. Aliás, há mesmo alguns resultados que sugerem que a probabilidade de uma gravidez evoluir favoravelmente é maior em casais que voltam a engravidar nos três meses seguintes.
Mas acima de tudo, o mais importante é que o teu corpo tenha recuperado e que tu estejas emocionalmente preparada para viver esta nova experiência. Todas as pessoas têm o seu tempo e o processo de luto varia muito. É importante que na tua cabeça possas distinguir as duas gravidezes e não te servires da segunda para apaziguar a dor que sentes.
Devo fazer alguma coisa diferente desta vez?
Não há necessidade de recorreres a tratamentos de fertilidade para uma nova gravidez. Também não parece haver vantagem em introduzir a toma de aspirina. Agora, se vais fazer tudo exatamente igual? Possivelmente não. Já não és a mesma pessoa que eras antes. Já viveste uma experiência tão forte que mudou de forma intensa aquilo que consideras que é uma preparação adequada da gravidez. E, mais uma vez, o que é adequado para ti, não tem que ser o mesmo que é adequado para outra pessoa. Se a gravidez anterior não tinha sido planeada, podes marcar uma consulta pré-concecional e fazer as análises / exames recomendados. Se a gravidez era planeada, podes querer fazer exames adicionais. Os resultados podem mostrar se há alguma questão que pode ser melhorada e às vezes são coisas tão simples como ajustar hábitos de vida.
A Pré-Conceção numa gravidez pós-perda
Se numa outra gravidez, a pré-conceção consciente faz sentido, mais ainda fará numa gravidez pós-perda. Quer tenhas passado por uma perda do primeiro trimestre, por uma perda gestacional tardia ou por uma perda neonatal, quando quiseres voltar a engravidar, há muitas dúvidas que te vão passar pela cabeça e muitos fatores que podem despoletar ansiedade. Como foi vivido o luto da gravidez anterior (em casal e individualmente)? Quais os motivos para esta nova gravidez? Quais os maiores medos? Como te sentes preparada para lidar com a possibilidade de um cenário idêntico? Quais as expectativas de cada um dos membros do casal? Qual a equipa que queres a acompanhar-te nesta fase e de que forma precisas que esteja disponível para ti? Há alguma questão ao nível da vossa saúde que queiras otimizar? E noutros aspetos da vossa vida? Todas estas questões são importantes e todas as respostas são válidas. Para que uma gravidez decorra com sucesso, há que promover a tranquilidade (na medida do possível).
Como superar o medo e a ansiedade?
Queres a resposta ideal ou a real? É que não há forma de deixar esse medo de lado! Ele estará lá contigo, umas vezes mais forte, outras vezes mais apaziguado. Acolhe-o. Aceita que vai ser assim. Passaste por uma experiência anterior traumática, é normal que te defendas de um novo sofrimento. Aliás, a evidência mostra que uma percentagem significativa das mulheres que passam por perdas do primeiro trimestre ou gravidezes ectópicas desenvolve alguma patologia ao nível da saúde mental – ansiedade, depressão ou stress pós-traumático. O importante é que o medo não te paralise. Se sentires que é demasiado para gerir, pede ajuda. Psicoterapia pode ser fundamental para fazeres o teu luto e te preparares para esta nova fase. Ter o apoio de uma doula também pode ser extremamente útil para te fornecer informação e ir acolhendo os teus dias mais difíceis mas também as tuas conquistas e celebrações.
Referências: